Primeiras Impressões - Parte I

Era mais uma noite comum. Eu nem imaginava quais surpresas me eram reservadas. Aliás, eu imaginava sim! Era uma noite comum, e não uma noite normal!
Eu estava sentado em minha mesma mesa de sempre, tomando meu whisky de sempre. Azevedo estava ocupado, então eu apenas bebericava e ficava com meus pensamentos. Eis então que um outro garçom me abordou, me entregou uma taça de Martini e disse que era ofertado por uma mulher que estava sentada ali próxima, em outra mesa.
Isso nunca me acontecera antes, na verdade, isso acontece de forma inversa. Eu já ofertei diversas vezes bebidas para mulheres. Mas desta vez, eu estava recebendo o presente. Finalizei meu whisky, tomei a taça entre as mãos, ajustei minha lapela e me direcionei até a mesa da tal mulher...

- Boa noite senhorita, agradeço pelo drink. Posso me sentar?
-  É claro, por favor. Fique à vontade!
- Devo lhe confessar, é a primeira vez que vivo uma situação como esta!
- Bem sei, também é a primeira vez que te vejo sentado sozinho, normalmente está sempre muito bem acompanhado por uma bela mulher...
- Conheço muitas pessoas - Fiquei muito sem graça neste momento - Mas enfim, como devo lhe chamar?
- Pode me chamar de Capitu! E sim, minha mãe era uma grande fã de Machado de Assis.
- Capitu! Deixa eu ver seus olhos Capitu? Me desculpe, foi inevitável, sempre sonhei em recriar essa cena em minha mente. Mas me fale sobre você!
- Ainda nem sei seu nome, e eu prefiro ouvir primeiro. Por que está sozinho nesta noite?
- Perdoe Capitu, me chamo (escolha um nome), mas todos me chamam de "poeta", fique à vontade! E não estou sozinho, estamos conversando...

Nossa conversa durou cerca de uma ou duas horas. Não posso precisar o tempo, foi tudo muito agradável. Educada, de voz macia porém categórica em suas afirmações! Inteligente e muito sagaz. Devo ter tentado por uma ou duas vezes alguma investida, mas ela rebatera todas, sempre cheia de elegância. Ao mesmo tempo que fazia isso, deixava no ar, pequenos detalhes que me instigavam... Mexia no cabelo, me olhava com um meio sorriso, mordeu os lábios por duas vezes, e isso sim eu posso precisar! Uma mulher como ela mordendo os lábios não seria possível esquecer.
Advogada, usando um vestido preto. Um decote razoável, permitindo apenas imaginar. Uma silhueta esbelta, olhos azuis... Olhos... De cigana oblíqua e dissimulada. E no intervalo de uma ou duas horas, nada mais consegui identificar! Até aí, eu ainda estava tranquilo, mas foi quando ela se despediu de mim, que fiquei assustado...

- Pois bem poeta, é tarde e devo me retirar! Foi um prazer essa conversa, você é muito educado e gentil! Digno deste rosto inocente, destes olhos negros tristes e sorriso provocante. Não é de meu feitio, mas preciso reconhecer o quão fala bem, e que rico vocabulário possui! De certo, deve ser muito difícil resistir a teu galanteios. Sorte minha não ter tentado isso comigo não é mesmo!? Bom, um grande beijo, e nos falamos outra hora!
Pegou sua bolsa, sorriu para mim e saiu...
Ainda fiquei por uns instantes olhando ela sair, quanta elegância meu Deus! Só após cair na real, percebi que não tinha anotado seu número. Como eu entraria em contato? Preocupado e confuso pedi a conta, e quando a recebi, novamente um susto! Um bilhete: "Sua conta está paga, e aqui está meu número. Aguardo sua ligação poeta"
Talvez... E só talvez ela tenha planejado isso em algum momento o qual eu não conseguia me recordar. Ela foi ao banheiro, mas foi tudo muito rápido, eu não a vi parar no balcão ou conversando com alguém... Olhei para o balcão e vi Azevedo rindo...
- Azevedo! Se eu ligar e for engano, vou te matar!
- É um risco que vou correr poeta!
Rimos juntos, me levantei e sai. Completamente atordoado...

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