Desejo praiano (Parte I)

 Imagine uma daquelas praias pequenas... Aonde as ondas quebram mais alto... Cercada por mata, e aquelas rochas grandes.

Pois é, montei um barzinho de praia numa dessas. Um local quase que paradisíaco assim atraí todo o tipo de pessoa. Já vim muitas famílias, grupos de amigos, casais... Mas em meio a tantas pessoas, vou falar de uma em especial...


Fim de tarde, aquele céu alaranjado servia de palco para um mais um por do Sol maravilhoso. A praia ainda tinha gente, e meu movimento estava ótimo naquela noite... Em um dos breves momentos aonde eu conseguia ter um tempo pra lavar alguns copos, eis que ela se aproximou...

 Chegara dançando, trazendo consigo um sorriso maravilhoso e encantador. Um olhar de cigana, tal como áquela de Bentinho. Cabelos longos, negros. Pareciam acompanhar aquele corpo com balanço inquietante. Quanta sensualidade ao natural, era a personificação pura da mulher! Sem o menor esforço era capaz de ganhar a qualquer pessoa naquele momento. Chegou e sentou-se.

Aquela pele em tom de canela, seu corpo que instiga ao desejo. Minha boca anseava por teu beijo, anseava por ela! Que fosse naquele momento! Ali mesmo lhe agarraria , um beijo lento que irônicamente, nos aceleraria! Lhe beijaria inteira, e com a vontade tamanha que me invande, lhe deitaria ali mesmo na areia. 

Nas rochas, te levaria ao prazer, o mar seria nossa trilha de fundo. Naquele momento, só nós no mundo. Nós e esse nosso intenso querer!


E então, ela se decidiu. Olhou pra mim, e acenou.

Respirei fundo e fui atender. 


  


O Quetzal

Sob estrelado céu em meu descanso, servi me de uma Cuba libre e de um vento manso. Dias de Verão e noites que nos lembram um antigo Inverno... Aonde estará, aquele frio, aquele frio interno?

Sento na calçada, cansado. Tarde da noite de semana, nenhum som executado, nenhum som que se emana. O silêncio me revigora, escuto ao teu nada e a inspiração se aflora. Talvez devesse entrar e dormir, mas logo agora!? Inspirado eu, sozinho, começo a sorrir.

Breve alegria estranha! Talvez não estranha, mas um pouco diferente. Sorria sozinho no silêncio, uma alegria que só quem sabe, sente. Pergunto-me, por que sorrir? Antecedendo a vão filosofia que está por vir, olho para o estrelado céu... Quantas filosofias jogadas assim, ao léu?

Sento me na calçada, eis então que surge uma criatura alada, pousa na rua, em minha frente. Uma ave estranha... Estranha não! Diferente!

Em tons de verde rubro, estranha ave que pousa em minha rua. Me encara, e eu não descubro. Quais inteções que te trazem, qual será a sua?

Estranha, e também diferente ave que pousa em minha rua. Me encara com olhares que insinua a conversar. Enlouqueci, mas então, resolvo lhe saudar! 

- Ave das vivas cores que pousa nesta noite sem explicação, Vem para incomodar ou busca refugio em meu coração? Chegas do nada e pertuba minha paz...

Responde a ave: Muito mais!

Não é possível, enlouqueci! Uma ave que me entende está aqui? Tal como um conto de fadas, daqueles que contam nossos pais!

Responde a ave: Muito mais!

Me instiga e me artormenta. Um frio na barriga, que esfria de forma lenta. Surges de nada em minha rua, pousa e me encara, e abusada que és, ainda por cima uma frase me faz! 

Vá te embora ave aos meus pés! Voa, com tua voz que ecoa num lamento ou canto como um profundo coral de ais.

Anda, canta ou fala novamente se for capaz!

Responde a ave: Muito mais!

Com uma longa cauda, ainda ali parado. Como se estivesse diante de sua missão, seu dever tão esperado. Me encara como se quisesse me fazer compreender, toda uma história que estou a viver. 

E continua ali parada, não te moves em nada, só mantém sua encarada. Mas teu olhar não me engana, vens até mim para me fazer lembrar daqueles olhos de cigana. Não é!? Vens para pertubar minha paz!

Responde a ave: Muito mais!

Tarde. Tarde da noite e tarde demais! Poucas palavras e sua encarada, caí na sua armação. Caí na sua cilada. Me faz pensar se era oblíqua ou dissimulada, me faz pensar nela novamente, e dessa vez, ainda mais!

Responde a ave: Muito mais! 

Muito mais! É verdade! Saudade ou vontade? Eu já não sei mais. Em meus devaneios, te abraço e te beijo, aperto contra mim a carne de teus seios! Numa ânsia do querer e a te esperar, só para poder então desfrutar... E cada vez mais, e mais...

Responde a ave: Muito mais!     

Muito mais e sempre mais! Ave estranha e diferente, vens aqui só para me fazer querer ainda mais?

Responde a ave: Muito mais!

Contos de um bartender

 Andei pensando muito no fato de Álvares não ser mais o barman do meu "bar de sempre". Eu sei, nos dias de hoje não é tão difícil localizar uma pessoa, porém, como eu havia pensado, talvez isso seja mais uma adaptação da ordem natural das coisas. 

Durante esses dias criei coragem e fui buscar uma nova formação. Algo o qual eu já possuo certo conhecimento, mas desta vez, fui atrás de conhecimento específico. Irônico ou cômico, decida você, mas me formei como bartender. E decidi trazer aqui alguns contos...



Ah, dias com pouco movimento... É muito divertido observar de longe os clientes, principalmente quando algum deles pede algo específico. Por exemplo: 

Vê aquele homem alí? Jaqueta de couro, barba longa e bem cuidada. Cara de motociclicsta americano... Quando entrou ao bar, se aproximou do balcão e me disse com uma voz grossa:

- Hei chefe, um Stone Sour por favor.

- É claro! Como o deseja?

- Whiskey, montado!

Não se pode achar que um homem como esse tenha pouca experiência de vida. Um drink aonde equilibramos o amargo e azedo às 19h de uma Terça feira não é tarefa para qualquer pessoa. 

Prontamente o entreguei, ele pegou seu copo e se dirigiu para uma mesa. A mesma que ainda está. 

Entre um gole e outro, ele olha para o celular. Aguardando alguma mensagem? Criando coragem para enviar talvez? 

Lá de sua mesa ele acena "Mais um". Deixa comigo. Preparei e levei pessoalmente. 

- A semana começou dura?

Ele sorriu

- Quantos desses são necessários para preencher vazios?

Nossa, que pergunta. Respirei e respondi:

- Se o álcool prenchesse vazios da alma, o alcolismo seria uma religião.

Sorrimos e então voltei ao meu balcão.

Camaradas: