Distância

dis.tân.cia

sf (lat distantia) 1 Relação, estado ou fato de ser ou estar distante ou remoto no espaço. 2 Extensão retilínea do espaço entre pessoas ou objetos. 3 Extensão retilínea do espaço entre o olho e um objeto percebido. 4 Lapso de tempo entre dois momentos, fases ou épocas. 5 Afastamento, separação. 6 Grande diferença.

Era um momento complicado em minha vida. Sentia que estava preso no presente, sem expectativas para o futuro, sem lembranças do passado. Vivendo três segundos de cada vez. Até que uma tarde, observei um brilho, sem cor definida. Um brilho que me trouxe lembranças e ao mesmo tempo trouxe vontades de um futuro.

I

Como eu disse, vivia apenas o presente, por isso não saberia explicar como minha conversa com ela tinha surgido. Uma tarde começamos a conversar e desde então, conversamos.
Ainda não é momento de falar sobre ela, mas sim de falar como era distante nossas conversas. Era bem complexo, afinal agíamos naturalmente e foi naturalmente que deixamos o perigo, o proibido, o conceito de errado de forma subliminar. Nas entrelinhas. Nossa conversa era como algo que não podia, apesar de poder. 
Começamos como qualquer conversa, falando sobre gostos, hobbies, algumas particularidades...  O grande detalhe disso era que, a cada frase trocada eu saia do meu momento estagnado, fazia uma rápida viagem ao passado e seguia para um futuro imaginário. Futuro este que era sonhado em um passado distante.
Era deliciosamente estranho! Com pouco tempo ela me me fazia um bem incomum. Não o clichê, mas por exemplo, ela me fez voltar a realizar práticas que eu havia abandonado. Práticas estas que me traziam a calma, um gosto a mais pelos dias... Resumindo, ela sem saber, entrava em meu inconsiente pela primeira vez, trazendo aos poucos devaneios de outrora, que conviviam comigo desde muito tempo. Era como uma pessoa muito querida no passado, que voltava a fazer parte de meus dias assiduamente.
Isso requer uma explicação mais detalhada...
Quem me conhece há tempos vai logo entender. Vamos então falar de como ela se parece!
Eu poderia compara-lá como um mapa do tesouro! Seu primeiro passo, dois faróis de luz reluzente, como se fossem emanados de joias! Seus olhos continham um brilho que pareciam me levar para algum lugar que eu não sabia ao certo aonde seria, mas que com certeza me atraia bastante pelo caminho já percorrido. O desenho de seu rosto era harmônico, e próximo ao queixo, uma das partes mais perigosas. Seu riso altamente traiçoeiro! Como um canto de Sereia que atrai o marinheiro para a morte, seu sorriso encantava, mas que tinha o poder de fazer qualquer um se perder na curva que seus lábios faziam. Recobrindo tudo isso, um doce tecido que o vento sempre fazia questão de balançar quando ela estava em meu campo de visão.
Ela trazia a aparência de tantas mulheres as quais já escrevi sobre. Era como se finalmente a garota dos contos estivesse viva! Como uma ex namorada, que há tempos deixei de lado.
Talvez você se pergunte sobre o grande trunfo que uma mulher pode ter e sim! Ela já tinha feito! De forma natural, ao acaso pude vê-lá usando uma blusa em que seu ombro estava à mostra. Seu ombro direito, coberto por uma pele que com certeza deve ser macia e viciante! Não resisti, convidei-a para jantar. E ela aceitou.

II

Escolhi um local afastado do barulho da cidade, a discrição era fundamental para nós! Durante a espera pela entrada, resolvi iniciar a conversa na ofensiva! Notei que ela usava a combinação de vestimenta que mais gosto e mencionar o quanto caia bem nela foi inevitável.
Ela era tímida, e recebendo um elogio desse já de cara a fez sorrir de lado. Mordeu rapidamente o lábio e me olhou antes de agradecer com um simples "Obrigada".
Nitidamente ela se controlava quando falava. Iniciava frases, mas parecia mudar rapidamente o que ia dizer. A cada vez que fazia isso, sorria sem graça! Se ela soubesse como fico atraído pelo sorriso sem graça ela não faria isso tantas vezes...
Ela se mostrava uma pessoa muito interessante aos meus olhos. Ao mesmo tempo que seu jeito meigo e gracioso de menina se apresentava, sua sensualidade natural se apresentava como a mulher que era! Confesso, desejava já nos primeiros instantes ousar! Ver até que ponto sua timidez chegaria. E assim o fiz...
Perguntei o porquê ela aceitou meu convite para jantar e principalmente porquê escolhera tal roupa. Ela deu o sorriso sem graça novamente, olhou para baixo e respondeu segura!
 - Talvez eu quisesse que você me olhasse!
Por breves segundos, perdi o chão! Ela era tímida, mas parecia saber o que queria. Não deixou claro, iniciou a frase com um "talvez", poderia ser para impor um limite até onde devo interpretar, ou estava jogando, esperando que eu ousasse ainda mais. Se a segunda opção fosse a verdadeira, ela estava decididamente segura e eu estava sendo o manipulado.
Mas sou um jogador experiente, resolvi antecipar os passos dela e me garantir!
 - Você sabe que gosto muito de mulheres que se vestem assim, posso entender que com isso queira me seduzir. Ela ficou corada, deu com os ombros e ajeitou o cabelo por de trás da orelha.
Nossa comida chegara e com isso, pausamos nos flertes.
Retomamos para o comum, carreira, problemas, amigos, relacionamentos antigos... Nada fora do normal. Ao fim do jantar perguntei se ela precisava de carona. Respondeu meu dizendo que voltaria de táxi. De forma alguma eu permitiria isso! Ofereci carona, mas não com segundas intenções, por gentileza mesmo. E ela aceitou.
Chegando em sua casa perguntei se havia gostado da noite, e ela disse que sim. Me correu uma vontade imensa de perguntar se ela queria esticar a noite, mas apesar de termos demonstrado uma sintonia imensa, ainda não sabia como ela lidaria com tal pergunta.
Nos despedimos e antes dela fechar a porta do carro me disse:
- Eu gostaria muito de terminar esta noite de outra forma, mas tenho um segredo que me impede disso.
Sorriu sem graça mais uma vez, e tirou do bolso uma aliança. Colocou em seu dedo e entrou.
Respirei fundo e fui para meu bar de sempre, eu precisava beber!


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