Para refletir

Arlequim fala: 
O beijo da mulher! Ó sinfonia louca da sonata que o amor improvisa na boca... No contado do lábio, onde a emoção acorda, sentir outro vibrar, como vibra uma corda... À vaga orquestração da frase que sussurra ver um corpo fremir tal qual uma bandurra... Desfalecer ouvindo a música que canta no gemido de amor que morre na garganta... Colar o lábio ardente à flor de um seio lindo, ir aos poucos subindo... Ir aos poucos subindo... Até alcançar a boca e escutar, num arquejo, o universo parar na síncope de um beijo!

Pierrot, ingenuamente:
É audaciosa demais a tua história...

Arlequim, ríspido:
Enfim, um Arlequim, Pierrot, é sempre um Arlequim. Toda história de amor só presta se tiver, como ponto final, um beijo de mulher!


Pierrot fala:
Eu também, Arlequim, nesta vida ilusória, como todos Pierrots, eu tenho uma história, vaga, talvez banal, mas triste como um cântico...


Arlequim debocha: 
Teu amor é sonho...

Pierrot responde: 
É tão doce sonhar! ... A vida , nesta terra, vale apenas, talvez, pelo sonho que encerra. Ver vaga e espiritual, das cismas nos refolhos, toda uma vida arder na tristeza de uns olhos; não tocar a que se ama e deixar intangida aquela que resume a nossa própria vida, eis o amor, Arlequim, misticismo tristonho, que transforma a mulher na incerteza de um sonho....

Arlequim, escarninho:
Esse amor tão sutil que teus nervos reclama só se aplica aos Pierrots?

Pierrot:
Não! A todos os que amam!
Aos que têm esse dom de encontrar a delícia na intenção da carícia e nunca na carícia...Aos que sabem, como eu, ver que no céu reflete a curva do crescente, um vulto de Pierrette...


Pierrot afirma sua teoria após perguntado se ele beijaste sua prometida:
Não... Para que beijar? Para que ver, tristonho, no tédio do meu lábio o vácuo do meu sonho... Beijo dado, Arlequim, tem amargos ressábios...
Sempre o beijo melhor é o que fica nos lábios,
esse beijo que morre assim como um gemido,
sem ter a sensação brutal de ser colhido...


Adaptado do conto mais lindo do mundo!
Para ler na íntegra, clique aqui: Máscaras - Menotti del Picchia

1 comentários:

COLOMBINA , sorrindo e tomando ambos pela mão:

Não! Não me compreendeis... Ouvi, atentos, pois meu amor se compõe do amor de todos dois... Hesitante, entre vós, o coração balanço:


A Arlequim:

O teu beijo é tão quente...

A Pierrot:

O teu sonho é tão manso...

Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma dando a Arlequim meu corpo e a Pierrot a minh’alma! Quando tenho Arlequim, quero Pierrot tristonho, pois um dá-me o prazer, o outro dá-me o sonho!
Nessa duplicidade o amor todo se encerra: um me fala do céu... outro fala da terra!
Eu amo, porque amar é variar, e em verdade toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente, se Arlequim e Pierrot fossem um ser somente,
porque a história do amor pode escrever-se assim:

PIERROT
Um sonho de Pierrot...

ARLEQUIM

E um beijo de Arlequim!


# De fato esse conto é fantástico.

 

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